segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Aniversário


Hoje dia do aniversário e só me vem à cabeça a poesia de Ávaro de Campos:


"No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

(…)
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."

domingo, 9 de dezembro de 2007

Saudade


"Saudade não quer dizer que estamos separados, e sim que um dia estivemos juntos."


Lembrei-me desta frase, porque ontem estive num jantar com colegas de trabalho e uma formadora. Pessoas que me marcaram, por termos estado muito tempo juntas e devido à sua maneira de ser. Há muito tempo que não conseguia ser tão sincero e natural como quando estou com este grupo. Talvez por que, devido ao facto de quase todos eram mais novos, quando estou com eles revejo os meus problemas que tive naquela idade. Outras vezes, porque ainda sinto falta de estar com pessoas que acreditam que vão mudar o mundo. E eles acham que sim. E quando estou com eles também. em que seja o meu pequeno mundo.

Por outro lado, vejo e admiro a paixão que eles colocam em tudo o que fazem. paixão que já tive e na companhia deles está a renascer. Todos eles são especiais, diferentes e únicos.

Tenho muita sorte em os ter conhecido.

Obrigado

domingo, 2 de dezembro de 2007

Rise up

Nunca mais me vou esquecer daquele jantar em casa da LL.
É verdade que:
"Our dream
is to fly
over the rainbow
so high.
we try to fly
away
so high
direction sky"

Espero que consigamos

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Road To Nowhere

Os talking Heads é que tinham razão:
"and we know what we're knowing, but we can't say what we'veseen
and we're not little children, and we know what we want
and the future is certain, give us time to work it out"
"we're on a ride to nowhere, come on inside
taking that ride to nowhere, we'll take that ride
maybe you want me while i'm here, i dont care
even when time isnt on our side, i'll take you there, take youthere

we're on a road to nowhere
we're on a road to nowhere
we're on a road to nowhere"

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

The Show Must Go On

O espectáculo tem de continuar. Por dentro a minha esperança pode definhar, a minha cara pode mostrar desespero, mas o meu sorriso vai continuar na minha face.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra


Carlos Drummond de Andrade


Esta é para os meus colegas e para mim. As pedras que vamos encontrar no meio do caminho. E que nunca vamos esquecer "na vida das minhas retinas tão fatigadas". Força!!!!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Leis de Murphy


Como todos sabem sou um grande adepto das leis de Murphy. Por isso dedico aos meu colegas estas pérolas:


Como base a Lei de Murphy tem esta máxima:
Se alguma coisa puder correr mal, correrá mal (leiam: se o estágio poder correr mal, correrá mal).

Corolários da Lei para os estagiários:
1. Nada é tão fácil como parece (arranjar clientes).
2. Tudo leva mais tempo do que se julgava (arranjar clientes).
3. Se existe alguma possibilidade de diversas coisas correrem mal, aquela que causar maior dano será precisamente a que correrá mal (omelhor potencial cliente nunca vai ter conta no banco).
4. Se você se apercebe de que há quatro maneiras de uma coisa correr mal, e se ultrapassar estas quatro, uma quinta possibilidade aparecerá imediatamente (aparecer a concorrência a dar melhores condições).
5. Deixadas a si mesmas, as coisas tendem a ir de mal a pior (especialmente se forem deixadas a mim).
6. Sempre que você se decidir a fazer alguma coisa, haverá qualquer outra coisa que terá de fazer primeiro (captar clientes).
7. Toda a solução gera novos problemas (que não vamos conseguir resolver).
8. É impossível criar alguma coisa à prova de tolos, porque todos os tolos são sumamente engenhosos (i.é, os clientes).
9. A natureza alinha sempre com imperfeição oculta (que é a falta de dinheiro dos clientes para pagar as dividas ou fazerem investimentos).
10. A mãe natureza é muito safada (é os pai e os filhos não ficam atrás).

Filosofia Murphy
Sorria. Amanhã será sempre pior ( e depois de amanhã podemos ser despedidos).

Constante de Murphy
A matéria será danificada na proporção directa do seu valor (isto é, quanto melhor nós formos mais danificados ficamos).


Não me considerem pessimista pois para isto temos o comentário de O'Toole à lei de Murphy:

"Murphy era um optimista"

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

John Cleese and Rowan Atkinson - Beekeeping

John Cleese and Rowan Atkinson conseguem ter um humor que quase me fez ter de ir ao hospital com falta de ar. Ao ver este video, pela primeira vez, senti-me mal de tanto rir. Assim vêm que tipo de humor me consegue atrair. Non sense.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Herois

Esta é para os meus colegas. Vocês são gestores 720º. E...
I can remember
Standing-by the wall
And the guns-shot above our heads
And we kissed-as though nothing could fall
And the shame-was on the other side
Oh we can beat them-forever and ever
Then we could be heroes-just for one day

domingo, 18 de novembro de 2007

Trabalho

Foto de Sebastião Salgado

"O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra."


Aristóteles


P.S.: é visivel quando vemos pessoas como a NG a trabalhar.

Absolute Beginners

Esta musica do David Bowie é para a LL. Ela sabe. A unica pergunta é Absolute Beginners até quando?
Precisamos, todos de ter uma meta, um objectivo, uma unico "objecto", para o atingir.
Deste teu amigo, para sempre.

James - Out To Get you

Mesmo com enganos, no inicio, é maravilhoso. Claro que isto é para o PM. Todos, os que crescemos passamos por isto. É normal, chamasse tornarmo-nos adultos. Quando precisares liga, estarei sempre presente. Crescer custa, mas menos acompanhado.

sábado, 17 de novembro de 2007

Vamos casar

Quando me perguntam porque casei, pela segunda vez, as palavras falham. Mas a realidade e a verdade está nesta musica. Tudo é verdade:
"We’ve been, going together
Too long to be vague
When there’s something to say
If it’s not now, then it’s never
So I’ll say it straight out
’cos I have no doubt, no doubt

Let’s get married
I love you and I want to stay with you
Let’s get married
Have kids and grow old and grey with you
Let’s get married
Hold hands, walk in the park
You can get a cat as long as it barks

We know, other people
Who drifted apart
Who broke each others hearts
But we ain’t other people
So we’ll do things our way
We’re gonna be o.k.
We’re gonna be more than o.k.

Let’s get married
We’re ready for tying the knot
Let’s get married
Set the seal on the feelings we’ve got
Let’s get married
We can make each other happy or we can make each other blue
Yeah, it’s just a piece of paper but it says I love you
For the good times
For the days when we can do no wrong
For the moments when we think we can’t go on
For the family
For the lives of the children that we’ve planned
Let’s get married
C’mon darlin’, please take my hand

And I’ll be the one
Who’s by your side
I’ll be the one
Still taking pride
When we’re old if they ask me
How do you define succes?
I’ll say,
You meet a woman
You fall in love
You ask her and
She says yes

Let’s get married
I love and I want to stay with you
Let’s get married
Have kids and grow old and grey with you
Let’s get married
Hold hands when we walk in the park
All right you can get a cat just as lang as it barks
For the good times
For the days when we can do no wrong
For the bad times
For the moments when we think we can’t go on
For the family
For the lives of the children that we’ve planned
Let’s get married
C’mon darlin’, please take my hand "

500 milhas mais 500 milhas

Eis uma musica que me faz lembrar a minha mulher. Por ela eu andava 500 milhas e andava mais 500 só para ser o homem que andou 1.000 milhas para estar ao pé dela.

Che Guevara


Li num blog, que estou a ficar fã, uma frase de Ernesto Che Guevara. E como já foi um dos meus ídolos de infância achei que devia falar dele.
a foto que apresento, de Alberto Korda, foi tornado num icon a nível mundial. esta imagem, que cheguei a admirar como o retrato de um Deus, hoje mostra-me outra ideia.
A fotografia foi tirada pouco tempo depois de as forças de Fidel Castro terem conquistado havana e colocado o ditador Baptista no isilio.
A foto não mostra um vencedor, a concretização do seu sonho. Mostra-me alguém a ver que o seu sonho não poderá ser realizado, que as pessoas, que festejam a vitória, não o compreendem, que é um homem que não pode ficar por ali. Necessita de correr, procurar, libertar e nunca parar.
Che nunca podia parar, tinham de o parar. Não podia olhar para a realidade, tinha de correr atrás do seu sonho, por muito que fosse utópico. Mas, contrário de muitos ou todos de nós, nunca desistiu.
Por isso, por ele, continuo a pensar:
"ASTA LA VITÓRIA, SIEMPRE!"

In my Defence

Freddie Mercury Faz falta ao mundo e aos sentimentos que muitas vezes não conseguimos transmitir como ele conseguia. Os deles e os nossos.
In my defence what is there to say
All the mistakes we made must be faced today
It's not easy now knowing where to start
While the world we love tears itself apart

I'm just a singer with a song
How can I try to right the wrong
For just a singer with a melody
I'm caught in between
With a fading dream

In my defence what is there to say
We destroy the love
It's our way we never listen
enough never face the truth
Then like a passing song
Love is here and then it\\'s gone

I'm just a singer with a song
How can I try to right the wrong
For just a singer with a melody
I'm caught in between
With a fading dream

I'm just a singer with a song
How can I try to right the wrong
I'm just a singer with a melody
I'm caught in between with a fading dream

Caught in between with a fading dream(Twice)
Oh what on earth
Oh what on earth
How do I try
Do we live or die
Oh help me God
Please help me



Autopsicografia


O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.



De Fernando Pessoa



Quero deixar a minha interpretação deste poema, se bem que os poemas não devem ser interpretados mas sentidos.

Quando escrevemos não escrevemos o que sentimos, mas o que conseguimos transmitir. Não sendo a mesma coisa. E quem lê, não sente o que o escritor sentiu, ou o que escreveu, mas uma terceira coisa, que é o que sentimos e não o que ele sentiu ou escreveu.

Assim, nada é objectivo e tudo subjectivo. Desde que exista um ser é sempre através da sua capacidade de transmitir ou de receber que os sentimentos são transmitidos.

Só alguém como Fernando pessoa pode em poucas frases fazer-nos pensar nisto.

Saber


"Saber tudo de tudo. Ou tudo de algum saber. Decerto é impossível e mesmo indesejável. Mas que tu sintas que é bela a luz ou ouvir um pássaro cantar e terás sido absolutamente original. Porque ninguém pode sentir por ti."

Vergilio Ferreira

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Amizade


Li numa frase de Cícero uma verdade universal que faz falta à sociedade dos nossos dias. Numa sociedade individualista, onde tudo o que é nosso dever ser segredo e onde, cada vez mais, nada deve ser revelado, fica isto:

Existirá algo mais agradável do que ter alguém com quem falar de tudo como se estivéssemos falando connosco mesmos?

Frase para pais, filhos, namorados, amigos e todos os que não querem dizer o que pensam, sentem e sonham.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Dance me to the end of love

Verdadeira definição de Amor.

"Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Oh let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love

Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love"

Closing Time - Para todos os meus colegas de estágio e formadores

Está no fim e vamos começar agora todos a lutar. Meus amigos é Closing Time

Hallelujah

Leonard Cohen escreveu e canta esta excelente musica oiçam e leiam:
I've heard there was a secret chord
That David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
And it goes like this
The fourth, the fifth
The minor fall, and the major lift
The baffled king composing Hallelujah

Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you
She tied you to her kitchen chair
She broke your throne, and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Baybe, I've been here before
I've seen this room and I've walked this floor
You know, I used to live alone Before I knew you
I've seen your flag on the marble arch
Love is not a victory march
It's a cold and It's a broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

There was a time when you let me know
What's really going on below
But now you never show that to me, do you?
I remember when I moved in you
And the holy dove Was moving too
And every breath we drew was Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Para rir quando tudo se desmorona

Devemos ser todos como Josef Climber

"As oportunidades só têm cabelo pela frente"

Foto de Sebastião Salgado


Ouvi há dias a frase que é o titulo deste post. E sei que cada vez mais tal situação é verdade. Olho para os meus colegas e vejo, do alto da minha década de diferença, como eles estão a deixar passar oportunidades que quando repararem já não as conseguem agarrar por atrás não têm cabelo e só as podemos de frente.
Vejo paixões a desaparecerem perante a insegurança, vejo medos a evitar uma boa prestação, vejo que nos olhares de alguns a vida é feita de brancos e negros. Límpidos, nítidos, brilhantes. Onde tudo é claro e seguro. Onde ainda se consideram os melhores do mundo.
Já pensei a avisá-los em dizer que avida não é assim, nítida, mas um oceano de coisas cinzentas e muito nublado.
Mas tal não sou capaz. Deixarei que vejam, enquanto a vida deixa, num mundo simples, fácil, e bicolor e não monocolor como mais tarde, se crescerem, vão ver.

A Vida...


A Vida é como uma prova de resistência, numa pista, com curvas apertadas, onde não se sabe o que existe em cada uma, mas onde a experiência nos facilita o percurso.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Viver a vida com paixão

Sou um homem de paixões.
A vida tem de ser vivida de paixões. Tenho uma paixão pelo meu trabalho, pelos meus filhos, pela minha mulher, pelos meus amigos, pelos meus professores.
Já tive paixões por tudo e por nada. Já fui tão deprimido que um "copo cheio" era mau, pois rapidamente podia ficar vazio.
Entre ser apaixonado por tudo e um deprimido pela realidade, quis ser um apaixonado pela realidade. pelo que me acontece e assim sou feliz.
Uns dizem que assim sou feliz e outros que sou demente. Mentem, sou um demente feliz.

Restolho

Uma pessoa que considero amiga, colocou no seu blog um video da Mafalda Veiga da musica "cada lugar teu"
Obrigado por me lembrares de tempos passados.
Lembrei-me de outra musica -"Restolho"
No dicionário diz:
"parte inferior do caule das gramíneas ou poáceas que fica enraizada depois da ceifa;
barulho" - para mim é também o que fica quando as relações terminam, i.é, o restolho da relação.
Leiam:
"Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário
Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonho
uma alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda
Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver
e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

Ou oiçam:
http://www.youtube.com/watch?v=jaHMytQ00U0

Sorriso

No dia em que passar por ti e não te sorrir, será o dia em que precisarei de um sorriso teu...

Por NG

Formação

Tive, durante o final da semana passada e o inicio desta, uma formação muito importante.
Importante em dois sentidos:
1º- Como pode um gesto, uma palavra, um silêncio ser importante para uma comunicação. Como pode uma ausência de sons, a velocidade de discurso ser importante. Como pode a voz, sem a imagem, mudar a ideia que temos do emissor.
Falamos há milhares de anos e não reparamos como isso pode ser tão importante e por muito que seja natural pode ser uma faca de dois gumes, muito afiada.
2º- Como o Amor que nós colocamos naquilo que fazemos, o gosto que temos no trabalho, pode transmitir uma imagem de profissionalismo e cativar as pessoas que trabalham connosco.
Obrigado NG. valeu a pena conhecer-te e cresci profissionalmente ao ver-te trabalhar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Sentimento

Lembro-me do dia em que te encontrei
naquela sala.
Ao teu lado me sentei.
Nunca antes te tinha visto,
nada de ti eu sabia,
nada de ti eu conhecia.
e …
Nunca mais de te esqueci.
Relembrei-me daquele em que te vi,
Sonhando no dia que te voltava a ver,
E finalmente te podia conhecer.

Foi um sentimento estranho que me apoquentou,
Algo que há muito não sentia,
Que há muitos anos não vivia
Mas que me rejuvenesceu.
Uma paixão que nasceu.

Como… não sei
um sorriso que não recordo
um gesto que não retive,
Mas é um sentimento com que acordo,
Irracional, estranho, que se vive

Não sei se tem futuro, ou posso confiar
No ciúme dos teus olhos verdes, mortal,
Ou nos castanhos que prometem Amar

Essa resposta só tu me poderás dar.
Se continuo seguro numa vida normal
Ou aventuro-me no que a paixão poderá dar.

sábado, 22 de setembro de 2007

Encontros dez anos depois

Quando encontramos alguém que não víamos à cerca de 10 anos algo de esquisito acontece.
Parece que para as outras pessoas a nossa vida parou e que nada aconteceu desde essa altura. Como que, desde a ultima vez que nós vimos essa pessoa tivéssemos entrado para uma câmara de congelação e só minutos antes tivéssemos saído. Nesta ultima semana fui à minha faculdade solicitar uma certidão de conclusão de curso. Preciso para o novo emprego. E, como bom aluno fui falar com a responsável do gabinete de direito. Sempre foi alguém que muito estimei e que me ajudou como delegado de ano, durante os quatro anos que tive nesta função.
Mas chegou a vida profissional e a distancia foi-nos separando. Só quase dez anos depois é que a voltei a ver. O estranho foi que la veio-me perguntar coisas que já nem sequer me lembrava. Disse que tinha casado e que tinha dois filhos. Perguntou-me se tinha casado com a minha namorada que tinha terminado à cerca de dez anos e que me mandou a baixo. De repente reparei que para aquelas pessoas, por estas perguntas e por outras que foram-me fazendo a minha vida tinha prado no tempo. Disse apenas que não. Nem me atrevi a dizer que já tinha tido 4 namoradas e tinha casado com duas. Obviamente em alturas diferentes e depois de ter divorciado da primeira.
Ficaram espantadas por ter 2 filhos, gémeos. Aí tive de dizer que duas crianças com dois anos consegue-se fazer em muito menos que três anos, quanto mais dez anos.
Penso que muitas vezes estamos tão ligados á nossa vida que esquecemos que a vida dos outros também avança, como diria o poeta, "como bola nas mãos de uma criança".

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Memória selectiva

Quando nos lembramos de coisas passadas de certeza que todos já reparámos que nos lembramos de factos que estão frescos na nossa memória, mas que existem outros que, por alguma rezão, desaparecem.
Ao ver os meus filhos crescerem lembrei-me do primeiro dia que fui para a escola. Do que se passou, da professora ter-me recebido, de ter chorado, de ter, inclusivé vomitado. Lembro-me da cara da professora. E, quase, que garanto que se a visse hoje, se for viva, que a reconhecia.
Tinha 3 anos. Tive essa professora durante dois anos. Depois, e na mesma escola, fiz a escola primária. Tive a mesma professora durante quatro anos. mas não me lembro da cara dela. Só me lembro que se chamava Maria da Graça, Gracinha para os miúdos.
Porque razão nós nos lembramos de umas coisas mas não de outras. Ambos os factos descritos são semelhantes e não existe, pelo menos aparentemente razão para serem vistos pelas células da memória de modo diferente.
O mesmo se trata com outras situações. podemos passar imenso tempo sem ver uma pessoa, que mal a vimos sabemos que é. No entanto pessoas que falamos durante muito tempo, se deixarmos de ter contacto, durante um ano ou seis meses, já não nos lembramos delas.
Parece que algumas escamas da nossa memória mantêm-se ao longo dos anos, mas outras caem e são substituídas por outras memória novas, fazendo assim, a nossa pele escamosa da nossa vida.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Amor versus Ódio

Quem de nós não esteve apaixonado?
É uma das perguntas que todas as pessoas acima d 18 anos não consegue desmentir.
A paixão é algo, penso seu, genético ao ser humano. Todos nós nos apaixonamos um vez n vida. Olhámos par alguém e era, pelo menos, perfeita. Nada de errado tinha na sua fisionomia, gestos, atitudes carácter. Era feita de propósito pra nós. Essa sensação é necessária e obrigatória para nos fazer crescer.
Em primeiro lugar, porque a vida tem muito mais interesse se for pensada como um conto de fadas e não como algo cinzento, em vários tons, que la é na realidade.
Em segundo lugar, porque é necessário que, num certo dia, percebemos que o objecto do nosso amor, não só não é perfeito, como nem sequer foi feito para nós.Ai, crescemos. Tornamo-nos mais desconfiados e egoístas e um pouco egocêntricos. Crescemos para estarmos mais de acordo com esta sociedades.
No entanto, junto deste sentimento chamado paixão existe outro sentimento, muitas vezes que se segue a este - o Ódio.
Só quem nunca se divorciou pode desmentir esta verdade absoluta.
Muitas vezes nem o sentimento Amor passa pelos sentidos dos sujeitos. Da paixão um dos sujeitos passa para o ódio. São dois sentimentos muito pouco racionais pois o objecto da paixão não é perfeito bem como o objecto do ódio não é totalmente imperfeito.
Mas são dois sentimentos que o ser humano precisa para ter alguma paz de espírito, ou sendo mas racional, lago que o cérebro precisa para continuar a funcionar em condições.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Paixão(II)

A imagem daquele anjo não me saia da cabeça. Adormecia a pensar nela e acorda com a imagem dela a abrir-me a porta.
Rapidamente comecei a reconhecer os seus paços quando descia as escadas, a sua voz no meio da rua. Mesmo a meio da manhã, no meio pregões das varinas, no barulho das crianças, eu sentia o seu andar, o seu respirar. Algumas vezes falhava, alguém conseguia imitar o andar dela, a sua voz, a sua maneira de descer as escadas. Mas noutras vezes acertava. E ela lá estava.
Ela costumava sair com a avó nas suas compras diárias. Alfama é um bairro muito único. Era normal as pessoas fazerem as compras para o próprio dia. Existiam talhos que abriam de terça a sábado às seis da manhã, fechavam às 16 horas.
Um dos mais conhecidos era o talho do Sr. António – Ti’António para mim. E ele nunca foi meu familiar. É apenas uma das formas de tratar as pessoas por quem tenho grande apreço e respeito. Assim, não se trata essas pessoas num distante “Senhor” ou “Senhora” mas num próximo Tio ou Tia. Dessa maneira quer o sujeito quer o destinatário sabia que aquela relação era especial.
Quanto ao peixe a variedade era imensa. Na rua de S. Pedro existiam, pelo menos 15 varinas que vendiam o seu peixe de terça a sábado. A Rua de S. Pedro era também denominada de Rua do Peixe. O cheiro do peixe tinha-se entranhado nas pedras da calçada. Apesar dos serviços da Câmara Municipal de Lisboa lavarem a rua diariamente logo após as varinas encerrarem o seu negócio às 15 horas. Mas o bairro cheirava a peixe, o bairro cheirava a mar. Mas não digo isto como critica ou como sinal depreciativo. Foi o Mar, ou a baia calma, designação fenícia que originou a palavra Lisboa, que fez que o povo tenha escolhido Alfama para viver. Há sua frente tinha uma fonte de alimento e dentro do bairro tinha muitas nascentes de água. Assim, tínhamos tudo o que era preciso para um povo se sedentarizar. Não faltava água nem comida.
Saudades de algo que já não volta.
Era normal a D. Manuela vir à rua fazer as suas compras diárias, agora na companhia daquele anjo.
- Olá Carla, como estás?
- Bem e tu?
Depois vinha a conversa do tempo e ficava sem nada para falar. Na realidade eu não precisava de conversa. Só de a ter ao alcance da minha vista.
Dificilmente eu conseguia ter a Carla na rua. Era uma rapariga de casa, não gostava de estar na rua – Não era de Alfama, onde para nós a rua é mais uma assoalhada da casa.
É normal encontrar as portas das casas abertas. Tal situação é devido a uma razão sócio-arquitéctonica ou arquitectónico-sociológica. As casas em Alfama são muito pequenas e com pouca iluminação. Muitas vezes têm divisões interiores e apenas uma ou duas janelas. Deste modo é normal encontrarmos portas de entrada com janelas e portas abertas. Tal situação vem minorar as duas características dos imóveis em Alfama. Com a porta aberta entra mais iluminação natural para dentro de casa e, por outro lado têm-se a impressão que a casa é maior. Como se a casa se alargasse para a rua e para dentro da casa dos vizinho que têm igualmente a porta aberta.
Talvez por esta arquitectura, pelas pessoas ou pela história. Não podemos esquecer que a arquitectura é de origem árabe onde a introspecção familiar e social é rainha onde as casas são constituídas de acordo com a cultura muito particular. Existe em Alfama uma sociedade diferente do resto da cidade. Todas as pessoas do bairro se conhecem. As notícias correm muito depressa. E, por isso, existe entre os habitantes do bairro uma mistura de Amor e Ódio Familiar. As pessoas adoram-se, mas muitas vezes por questões sem a mínima importância, deixam de se falar, chegando a existir confrontos físicos.
Sendo um bairro tão característico tais individualidades do bairro são visíveis durante os meses quentes e pelo frio são mais dificilmente detectáveis no verão.
Mas finalmente chegou o verão.
No verão as ruas do bairro fervilham de vida. As casas passam a ser moradas para comer e para dormir e as ruas como grandes salas de estar. Como se o bairro fosse uma grande casa, como dizia Ary dos Santos, “um casa sem janelas”. Muitas vezes as pessoas de pisos superiores como não pretendem sair e ter de descer as escadas ficam a janela ou nas pequenas varandas. E era nessa sua varanda que a Carla passava grande parte do tempo. Ela adorava ler e de estar sentada de costas viradas para a rua. Na realidade de costas viradas para o bairro. Como se ele não fosse importante para ela. Vivia fechada no seu mundo onde tudo o resto fosse supérfluo. Nunca ele iria perceber mas é esse o espírito reinante em Alfama. O individualismo, considerando tudo o resto supérfluo. Com uma pequena diferença. O bairro considerava isso não para os seus habitantes mas para os visitantes, considerava supérfluo o resto que não fosse de Alfama. Era apenas um pormenor, mas aquele anjo tinha o espírito de Alfama.
Mas o facto de a ver permitia-me ser um pouco mais feliz e fazia-me ganhar coragem para pedir para ela descer. Certo dia, estava a Carla na varanda e a D. Manuela na janela das escadas com a vizinha do lado. Pensei – Porque não?
- D. Manuela a Carla pode descer?
- Pode, se ela quiser.
Vi um pequeno sorriso na cara da Carla.
- Mas vou descer para quê? - Perguntou a Carla.
-É difícil falar com alguém que está a dois andares a cima. Anda, podemos ir dar uma volta ao bairro.
- Eu conheço o bairro. Não me perco - Respondeu a Carla. Mas apesar da resposta negativa vi um leve esgar no seu rosto a solicitar que eu insistisse. Na realidade, talvez não tenha visto nada pois eu sem óculos vejo mal à distância e nessa altura tinha a mania de não os usar para não parecer feio.
Após alguma insistência e tendo a D. Manuela do meu lado, a Carla desceu. Andámos a passear a tarde toda. Foi uma tarde perfeita, estava a passear em Alfama com a mais bonita mulher que alguma vez tinha visto e, desta vez, ela estava a passear comigo. Pois na minha imaginação já tinha feito aquele passeio com ela, Mas hoje é real.
Tornámo-nos bons amigos e para mim era a mulher da minha vida. Quase todos os dias nós estávamos juntos.
No entanto, ela nada sabia ou desconfiava da minha paixão. Parece que é verdade. Segundo o povo em questões de Amor o visado, neste caso a visada, é sempre a ultima a saber. Via-me como um amigo que podia ter num bairro completamente estranho. Eu sonhava no dia em que pela primeira vez ia dizer a alguém que gostava dela, que queria que fosse minha namorada. Em que pudesse terminar a minha historia amorosa com o famoso “e viveram felizes para sempre”.
Não era a primeira vez que eu gostava de uma rapariga, mas sempre fui muito cobarde e nunca tive coragem de dizer nada. Já tinha beijado raparigas, mas nunca nenhuma que eu gostasse realmente. Parecia difícil fazer com alguém de quem nós gostamos mesmo. Era mais fácil com as outras. Se não lhe ligavas muito ias mais descontraído. Não te preocupavas que algo corresse mal. E, por isso não corria mal. Mas agora era diferente. Eu estava apaixonado por ela. Eu pensava nela todos os minutos, eu respirava, comia e bebia-a nos meus pensamentos. Eu tinha de dizer o que sentia por ela e tinha de saber se ela sentia o mesmo por mim. E o pior é que ela podia dizer que sentia o mesmo por mim e ai vinha o grande problema. E se eu a beijasse mal? E se eu não fosse tão bom namorado como amigo? E se…
Era esse o meu problema. Mas eu estava cada vez mais apaixonado por ela.
Este sentimento aumentava exponencialmente cada dia que passava. Eu tinha de dizer o que passava na minha cabeça. E naquele dia não podia passar. As palavras tinham sido exaustivamente treinadas. Na minha cabeça fui alterando e melhorando o discurso. Ele não podia falhar. O discurso cuidadosamente aperfeiçoado, algumas vezes com palavras tiradas do dicionário, estava pronto.
Após ter ajudado o meu pai (ele tem um restaurante), esperava ouvir os passos da rapariga que eu queria para o resto da vida. Não conseguia ouvir, ou não desceu ou passou numa altura em que o barulho dentro do restaurante era tão grande que nem os meus apaixonados sentidos conseguiam ouvir. Nem das inúmeras vezes que vim à porta pelos supostos passo Vim à porta e olhei para a janela. Ela estava na janela das escadas. Eu decidi – Era agora:
- Olá !
- Olá, Helder.
- Posso falar contigo?
- Podemos falar daqui a um bocadinho.
- Tem de ser agora.
- OK, eu desço.
- Não, eu subo.
Achei que teria mais privacidade falar nas escadas do prédio do que nomeio da rua onde as paredes têm mais do que ouvidos. As ruas de Alfama não permitem que ninguém tenha uma conversa particular.
Subi as escadas num ápice e cheguei num instante ao pé do objecto da minha paixão.
- Entra Helder, para falarmos.
- Não, quero falar contigo aqui fora.
- Diz.
- Já nos conhecemos há algum tempo e desde que te vi pela primeira vez tenho um sentimento que com passar do tempo não desapareceu mas cresceu. Eu, desde o primeiro dia que te vi, gosto de ti. És uma mulher bonita e conhecer-te fez-me agradecer que o Zé Carlos tivesse sido atropelado. Não que ele merecesse, mas assim pude conhecer-te. E pude estar contigo e conhecer-te e ver que és a melhor coisa que podia ter acontecido na minha vida. E por isso gosto de ti e queria namorar contigo…
- Helder, eu gosto de ti como amigo. Se eu pudesse escolher, escolhia-te a ti. Mas no Amor não se escolhe. É o coração que escolhe. Por isso peço desculpa, mas não vou aceitar.
- Não faz mal – disse – mas eu tinha de dizer.
Desci as escadas. O meu plano tinha falhado redondamente. O texto que tinha criado não saiu. Nem uma palavra. Tudo aquilo porque tinha treinado foi-se no meio do nervosismo. E ela respondeu que não. O não que eu, no meio do meu medo, esperava mas que não queria.No entanto, não estava chateado, mas contente. Não estava triste, mas feliz. Não estava desapontado mas satisfeito. Tinha dito a alguém que gostava o que sentia. Tinha colocado, mal, mas tinha colocado em palavras o que sentia. E a partir desse dia não precisava de disfarçar perante ela. Sentia-me pela primeira vez um homem. Tinha, pela primeira, vez algo que sempre me pareceu de adulto. Dizer a quem amamos que a amamos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Paixão

A notícia caiu que nem uma tempestade num dia de verão.
O Zé Carlos estava no hospital. Estava em coma. Fora atropelado. Conhecia-o desde pequeno. Não é que agora, com 16 anos, fosse muito grande, mas já me considerava um adulto.
- Mãe, vá perguntar à avó do Zé como ele está?
- Eu pergunto quando ela descer à rua.
A avó do Zé Carlos, a D. Manuela, vivia dois andares por cima do negócio dos meus país. Eu conhecia-a, mas tinha vergonha de subir as escadas para perguntar como estava o meu amigo.
Após perguntar, durante alguns dias, como estava o Zé a minha mãe disse-me:
- Sobe e pergunta. O amigo é teu – Não valeu dizer mais nada. Ela era uma mulher decidida. Fui obrigado a subir para ir perguntar como estava o Zé.
O Zé não era um rapaz de Alfama, vinha para o Bairro quando estava de férias. A casa da avó era a morada de grande parte de muitos rapazes de Alfama. Os pais tinham e têm apenas um mês de férias e os filhos tinham três meses. Assim, dois terços das férias eram passados na casa dos avós. Grande parte dos meus amigos, nessa altura, imigrantes em Alfama. Crianças que quando cresceram não precisaram de voltar ao Bairro e afastámo-nos para sempre.
Toquei à campainha. Uma voz no interior disse:
- Eu vou lá.
A porta abriu. Um anjo abriu a porta. Um anjo de pele morena, cabelo comprido, liso, castanho-escuro, com calções azuis, curtinhos, camisa amarela, com dois limões estampados, um inteiro e outro cortado ao meio.
Aqueles dois olhos castanhos fitaram-me.
- Olá, como estás? – Não sei como, conhecia-me.
- Bem – respondi.
- Viste saber do Zé Carlos? – Ela conseguia ler o meu pensamento. Não o imediato, pois este estava deslumbrado por tamanha beleza e não conseguia pensar. Mas conseguia saber o que fui fazer ali.
- Entra e senta-te.
Mais rápido que o pensamento, sentei-me e comecei a falar com aquele anjo.
- Carla, quem é? – perguntou a D. Manuela.
- É o Helder. Veio perguntar sobre o Zé. – Ela sabia o meu nome. Aquela anjo sabia o meu nome.
D. Manuela veio da cozinha e pergunta-me:
- Então Helder tudo bem?
- Sim. – respondi sem tirar os olhos daquela beleza que me tinha aberto a porta.
- Vieste saber do Zé?
Qual Zé? - Foi o meu pensamento inicial, mas logo cai na realidade.
- O Zé está melhor? – Perguntei.
- Sim. Ele já saiu do coma e para a semana vem para casa.
A partir desse dia fui perguntar como estava o Zé todos os dias, para poder voltar a falar com aquele anjo.
Nesse dia quando desci as escadas todo o meu corpo sorria. Estava feliz, mas não pela recuperação do meu amigo. Estava apaixonado.

Continua…

Qualquer relação entre esta história e a realidade não é pura coincidência…