quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Paixão

A notícia caiu que nem uma tempestade num dia de verão.
O Zé Carlos estava no hospital. Estava em coma. Fora atropelado. Conhecia-o desde pequeno. Não é que agora, com 16 anos, fosse muito grande, mas já me considerava um adulto.
- Mãe, vá perguntar à avó do Zé como ele está?
- Eu pergunto quando ela descer à rua.
A avó do Zé Carlos, a D. Manuela, vivia dois andares por cima do negócio dos meus país. Eu conhecia-a, mas tinha vergonha de subir as escadas para perguntar como estava o meu amigo.
Após perguntar, durante alguns dias, como estava o Zé a minha mãe disse-me:
- Sobe e pergunta. O amigo é teu – Não valeu dizer mais nada. Ela era uma mulher decidida. Fui obrigado a subir para ir perguntar como estava o Zé.
O Zé não era um rapaz de Alfama, vinha para o Bairro quando estava de férias. A casa da avó era a morada de grande parte de muitos rapazes de Alfama. Os pais tinham e têm apenas um mês de férias e os filhos tinham três meses. Assim, dois terços das férias eram passados na casa dos avós. Grande parte dos meus amigos, nessa altura, imigrantes em Alfama. Crianças que quando cresceram não precisaram de voltar ao Bairro e afastámo-nos para sempre.
Toquei à campainha. Uma voz no interior disse:
- Eu vou lá.
A porta abriu. Um anjo abriu a porta. Um anjo de pele morena, cabelo comprido, liso, castanho-escuro, com calções azuis, curtinhos, camisa amarela, com dois limões estampados, um inteiro e outro cortado ao meio.
Aqueles dois olhos castanhos fitaram-me.
- Olá, como estás? – Não sei como, conhecia-me.
- Bem – respondi.
- Viste saber do Zé Carlos? – Ela conseguia ler o meu pensamento. Não o imediato, pois este estava deslumbrado por tamanha beleza e não conseguia pensar. Mas conseguia saber o que fui fazer ali.
- Entra e senta-te.
Mais rápido que o pensamento, sentei-me e comecei a falar com aquele anjo.
- Carla, quem é? – perguntou a D. Manuela.
- É o Helder. Veio perguntar sobre o Zé. – Ela sabia o meu nome. Aquela anjo sabia o meu nome.
D. Manuela veio da cozinha e pergunta-me:
- Então Helder tudo bem?
- Sim. – respondi sem tirar os olhos daquela beleza que me tinha aberto a porta.
- Vieste saber do Zé?
Qual Zé? - Foi o meu pensamento inicial, mas logo cai na realidade.
- O Zé está melhor? – Perguntei.
- Sim. Ele já saiu do coma e para a semana vem para casa.
A partir desse dia fui perguntar como estava o Zé todos os dias, para poder voltar a falar com aquele anjo.
Nesse dia quando desci as escadas todo o meu corpo sorria. Estava feliz, mas não pela recuperação do meu amigo. Estava apaixonado.

Continua…

Qualquer relação entre esta história e a realidade não é pura coincidência…

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