sábado, 17 de novembro de 2007

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.



De Fernando Pessoa



Quero deixar a minha interpretação deste poema, se bem que os poemas não devem ser interpretados mas sentidos.

Quando escrevemos não escrevemos o que sentimos, mas o que conseguimos transmitir. Não sendo a mesma coisa. E quem lê, não sente o que o escritor sentiu, ou o que escreveu, mas uma terceira coisa, que é o que sentimos e não o que ele sentiu ou escreveu.

Assim, nada é objectivo e tudo subjectivo. Desde que exista um ser é sempre através da sua capacidade de transmitir ou de receber que os sentimentos são transmitidos.

Só alguém como Fernando pessoa pode em poucas frases fazer-nos pensar nisto.

Nenhum comentário: